quinta-feira, 14 de junho de 2012

EDERALDO GENTIL




Ederaldo Gentil Pereira, mais conhecido como Ederaldo Gentil (Salvador, 7 de setembro de 1947 - Salvador, 30 de março de 2012) é um cantor e compositor brasileiro.

Seus pais foram Maria José de Souza (Dona Zezé) e Carlos Gentil Peres, antigo relojoeiro da capital baiana. Foi no Largo Dois de Julho que o menino Ederaldo passou parte da sua infância, brincando, estudando e trabalhando na modesta oficina do pai. Foi desta forma que aprendeu o ofício de relojoeiro, que ajudava nas despesas da família bastante numerosa.
Ainda adolescente mudou-se para o bairro do Tororó, também na área central da cidade, que era nessa época, o mais forte reduto do carnaval baiano. Ali podiam ser encontradas diversas agremiações carnavalescas, como o bloco Os Apaches do Tororó, a Escola de Samba Filhos do Tororó, entre outras. O menino Ederaldo começou bem cedo o gosto pelo carnaval, acompanhando o pai nos bailes à fantasia que eram realizados nos clubes tradicionais da cidade.
Ainda adolescente, Ederaldo começa a elaborar as suas primeiras composições, participando ativamente da ala dos compositores da escola de samba Filhos do Tororó. Os seus sambas passam a ser cantados nos ensaios da escola.
Como compositor urbano, fora do ambiente carnavalesco, Ederaldo Gentil iniciou suas atividades na cena da MPB no ano de 1970, através das composições Berequetê e Alô Madrugada (esta última em parceria com Edil Pacheco). O intérprete desses sucessos foi o cantor paulista Jair Rodrigues, na época um dos nomes de maior cartaz como sambista. Foram gravadas no disco LP “Talento e Bossa – JAIR RODRIGUES”, de 1970. Este foi o batismo musical deste jovem e talentoso músico. Essa abertura facilitou-lhe a aproximação com outros cantores nacionais como Alcione, Eliana Pittman, Leny Andrade e Conjunto Nosso Samba que se interessaram por suas músicas.
Em 1972, transferiu-se temporariamente para São Paulo onde tenta gravar o seu próprio disco. Nesse tempo, recebeu o incentivo e a ajuda de pessoas como o ator Juca de Oliveira, o produtor e pesquisador musical Fernando Faro, Walter Silva (o “Pica-Pau”) e Magno Salermo. Esse tempo na capital paulista se dividia em apresentações em programas de rádio e também de TVs, como a TV Cultura e a TV Record.

Embora contasse com a boa vontade dos amigos paulistas, o disco demorava a sair, e, decepcionado, retorna para a Bahia no final de 1972. É o reencontro com a família, os amigos e também com seu ofício de relojoeiro. Reaproxima-se também da sua escola de samba, onde, após as pazes com os dirigentes, resolve participar do enredo daquele ano que comemorava o cinqüentenário da maior ialorixá da Bahia, Menininha do Gantois. O seu samba "In-Lê-In- Lá" é, para variar, novamente o vencedor desse ano. Seria também a sua despedida da atividade de compor sambas-enredos. Essa música seria gravada por ele próprio alguns anos depois no seu segundo disco LP.
Em 1975, a gravadora Chantecler o convoca de volta a São Paulo onde grava um compacto simples que trazia as composições "O Ouro e a Madeira" e "Triste Samba", ambas de sua exclusiva autoria. A primeira composição fêz um relativo sucesso em sua voz, despertando a atenção do radialista e produtor musical Adelzon Alves, na época trabalhando com a cantora mineira Clara Nunes e outros artistas do mundo do samba. Foi no famoso programa radiofônico de Adelzon Alves, o Comando da Madrugada, da rádio Globo do Rio de Janeiro, que se decidiu a gravação do samba O Ouro e a Madeira pelo grupo Nosso Samba (acompanhantes oficiais de Clara Nunes).

Esse destaque fêz com que a gravadora Chantecler o convidasse para uma nova gravação. Desta feita, para a sua surpresa, não mais um simples compacto mas, sim, um LP, o primeiro de sua carreira. E assim surge, ainda em 1975, o disco Samba, Canto Livre de Um Povo, que trazia novamente o sucesso "O Ouro e a Madeira".

Ainda pela gravadora Chantecler, lança no ano seguinte (1976) outro LP, intitulado Pequenino. Dessa vez a produção se esmerou (o que não aconteceu com o primeiro), e o disco, tecnicamente irrepreensível, trouxe um time de músicos e arranjadores da pesada como João de Aquino, Waldir Silva, Altamiro Carrilho, Luna, Eliseu, Marçal, Jorginho, Pedro Sorongo e um coro de primeira com Dinorá, Zélio, Eurídice, Da Fé, Therezinha e outros. No repertório desse LP destacam-se os sambas De Menor, Dois de Fevereiro e In-Lê-In-Lá. Estava então consolidado o seu nome no universo fonográfico brasileiro. São vários os convites para participar de shows e apresentações em rádio e TV.

Participou, em 1977, na rádio Jornal do Brasil RJ como entrevistado especial do programa Especial JB-AM, apresentado pelo radialista Haroldo Saroldi. Já consagrado na mídia, Ederaldo retoma a Salvador, fazendo shows. Ao seu lado grandes companheiros do mundo do samba como Edil Pacheco, Batatinha, Riachão, Nelson Rufino, Walmir Lima e outros. No final da década de 70, protagoniza ao lado de Edil Pacheco e Batatinha o show O Samba Nasceu na Bahia, que ficaria célebre na história da música baiana.

Permanece cerca de sete anos sem gravar. Parece que os seus discos não alcançaram vendagens que atendessem às expectativas financeiras dos executivos das gravadoras.

Devido a esse "jejum" fonográfico, resolve lutar contra a indiferença para com o seu trabalho. Começa no ano de 1982 a produzir um disco independente, concluindo o projeto dois anos depois com o lançamento do LP denominado Identidade. Esse disco foi todo gravado nos estúdios da WR em Salvador, contando com o apoio de diversos amigos. Entre esses, alguns músicos, compositores, divulgadores e outras pessoas identificadas com o projeto.

Durante todos esses anos, continuou junto com os parceiros Edil Pacheco e Batatinha, promovendo a anual festa da noite do samba na Bahia todo dia 2 de dezembro. O tempo passou e Ederaldo Gentil viu o seu nome sendo pouco à pouco esquecido pela mídia e pelas gravadoras. As suas canções, consagradas por vários cantores nacionais, ainda continuavam sendo executadas nos bares das noites baianas, porém muitos nem sabiam que eram de sua autoria. Contam os amigos que, antes da reforma do bairro do Pelourinho, ele ainda gostava de circular pelas ruas do Centro Histórico e, às vezes, chegava a corrigir quando os cantores e boêmios erravam cantando suas músicas. Esse fato se deu mais de uma vêz no espaço cultural da Cantina da Lua no Terreiro de Jesus.
Os anos 90 seriam terríveis para os artistas tradicionais do samba baiano. A invasão do fenômeno batizado primeiramente de fricote e mais tarde, indevidamente, de axé-music, é a pá de cal para a música de Ederaldo Gentil e outras da mesma linha. O historiador Luiz Américo Lisboa Júnior, em seu livro 81 Temas da Música Popular Brasileira, conta que no ano de 1991 Ederaldo participou, com outros compositores do samba tradicional, de um projeto que usava a tecnologia do trio elétrico para apresentar um outro lado do carnaval baiano. Houve até apoio da prefeitura, mas o momento era ingrato, pois a concorrência com as estrelas da chamada axé-music era desleal. Tudo isto, somado à intolerância de algumas pessoas, foi a gota d´água para Ederaldo Gentil. Vencido, e sem forças para resistir, entrega os pontos afastando-se de vêz do mundo artístico.

Provavelmente tudo isso deve ter contribuído para que ele tenha se entregue ao desânimo e ao pessimismo, comportamentos que o levaram a um isolamento do mundo artístico e social. Viveu recolhido à um exílio voluntário, dentro da sua casa no bairro da Vila Laura, onde residia com a irmã Denise Gentil e outros familiares.
No ano de 1999, o seu parceiro e amigo Edil Pacheco produziu o CD "Pérolas Finas", patrocinado pela Copene (Companhia Petroquímica do Nordeste) e apoiado pelo órgão do estado o FAZCultura, que mostra uma visão da carreira de Ederaldo Gentil. O disco conta com participações especiais do saudoso João Nogueira, Carlinhos Brown, Elza Soares, Beth Carvalho e Gilberto Gil, entre outras.

Ederaldo Gentil já fez parceria em suas letras com vários compositores: Edil Pacheco, Batatinha, Nelson Rufino, Paulinho Diniz, Eustáquio Oliveira, Luiz Carlos Capinam, Anísio Félix, Roque Ferreira e Gereba.

Faleceu no dia 30 de março de 2012 no Hospital Ernesto Simões, em Salvador, de falência múltipla dos órgãos, aos 68 anos.



Clique nos links abaixo e faça o Download de uma coletânea de gôsto pessoal na qual incluo a música que considero uma das mais belas letras já gravadas: O ouro e a madeira, e do tributo Pérolas Finas, com a participação de vários intérpretes.





01 O ouro e a madeira (Ensaio com Ederaldo Gentil, Batatinha e Riachão)
02 O ouro e a madeira
03 Identidade
04 Vento forte
05 Roxinha
06 Nordeste de Amaralina
07 Ladeiras
08 Choro-dor
09 Compadre
10 Peleja do bem
11 Rio das minhas ilusões
12 O Samba e você
13 Dois de Fevereiro
14 O rei
15 A saudade me mata
16 Manhã de um novo dia
17 Amor, amor
18 Barraco
19 Samba, canto livre de um povo
20 Luandê
21 Provinciano
22 Dia de festa
23 Rose
24 De menor
25 Baticun
26 In-lê-in-lá
27 Cimento fraco
28 Ternos da Lapinha
29 Nordeste de Amaralina
30 A Bahia vai bem




 01 Luandê - Gilberto Gil
02 Identidade - João Nogueira
03 Espera - Luiz Melodia
04 A saudade me mata - Elza Soares
05 Rose - Lazzo
06 Maria da Graça - Edil Pacheco
07 Barraco - Carlinhos Brown
08 Impressão digital - Jussara Silveira
09 De menor - Paulo César Pinheiro
10 Eu e a viola - Beth Carvalho
11 Oceano de paz - Vânia Bárbara
12 In-lê-in-lá - Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes
13 O ouro e a madeira - Jair Rodrigues




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